É que qualquer C.A. terá de oferecer a possibilidade de ser uma alternativa para as crianças e jovens que não sentiram, ou por diversos motivos deixaram de sentir, que existiram dentro da mente de alguém, dentro da mente dos seus cuidadores principais. Então esse é logo à partida um dos nossos principais desafios quando trabalhamos nesta área: disponibilizarmo-nos a ter dentro da nossa mente um lugar para cada um destes bebés, crianças, jovens, famílias. Isto é desde o início um enorme desafio, porque afinal não nos podemos escapar de nós próprios quando os colocamos ao lado de uma série de emoções nossas guardadas algures dentro de um lugar nosso. De uma forma generalizada poderemos dizer: para sermos alternativos teremos de conciliar a subjetividade destes bebés, crianças e jovens com a nossa própria subjetividade.
Para tal é fundamental percebermos como sentem, como pensam, mas também estarmos tolerantes a não saber como pensam e como sentem. Estarmos disponíveis a percebermos que, por vezes, as experiências pelas quais eles passaram, às quais somos capazes de nos aproximar, estão, por vezes, completamente fora das experiências que vivenciamos. E que, como tal, podemos não conhecer esse lugar que dentro deles foi aterrorizado, roubado nas suas infâncias. Nem termos por vezes, qualquer vivência que se aproxime disso. Ainda que até tenhamos alguma empatia, podem haver áreas às quais não acedemos, ou até que, por motivos pessoais, devido às nossas vulnerabilidades emocionais, que todos temos, não podemos aceder. Sendo que haverá sempre aquele contacto com aquele jovem, criança que nos faz descobrir áreas tenebrosas que não sabíamos que existiam dentro de nós. Sim, o desafio é enorme!
Ou seja, será também fundamental cada cuidador, independentemente da função que tenha no sistema de Cuidados Alternativos perceber primeiro que é um cuidador e depois como lida com os seus próprios sentimentos, pensamentos e ter um espaço reflexivo sobre si próprio. A relação é o nosso principal instrumento de trabalho e os nossos sentimentos são muitas vezes o único instrumento que por vezes temos (em determinadas fases) de forma a aceder à subjetividade dos jovens.