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Conversa com especialista
André Almeida
Breve nota curricular:
Com experiência profissional de cerca de 20 anos na área do lazer e da cultura, passando por entidades públicas, sociais e privadas, licenciou-se em 2004 em Animação e Produção Artística no Instituto Politécnico de Bragança. Trabalho, entre 2004 e 2005, na Divisão Cultural do Município de Bragança, onde desenvolveu um conjunto de projetos culturais e eventos e a partir de 2006, integra a equipa pedagógica da Fundação Bissaya Barreto na Colónia de Férias da Torreira, como Animador Cultural e, posteriormente, como Coordenador Pedagógico. Na CFT desenvolveu programas de ocupação e lazer para diferentes valências - crianças, jovens, idosos e deficientes profundos- e assumiu a gestão das equipas de trabalho - Animadores, Monitores e Equipa Logística e implementação das atividades de lazer. Em 2015, criou um projeto de empreendedorismo que culminou com a criação da empresa HOMENSNALUA, onde exerce as funções de Coordenador/Gerente. A empresa dedica-se à produção de eventos, programas de animação hoteleira e espetáculos
Ao longo dos tempos, as gerações têm sido educadas dentro de uma filosofia orientadora de que o trabalho (nos adultos) e a escola (nas crianças/jovens) são a contribuição mais valiosa que damos à sociedade.
Sim, o trabalho e a escola são importantes e essenciais para a condição humana, mas não são tudo! Somos mais complexos e precisamos de elementos agregadores que nos preencham e transformem em seres únicos e livres. Assim, num mundo em que as exigências e as obrigações da vida quotidiana podem parecer esmagadoras, reservar tempo para o lazer e a cultura não é meramente um luxo, é uma necessidade e um direito elementar para alcançar o bem-estar mental, fortalecer relações e descobrir novos interesses.
No entanto, nem sempre o acesso à cultura e ao lazer é fácil, quer por questões financeiras como geográficas ou educacionais, impedindo a participação igualitária de todos. Cabe ao Estado e às Entidades Promotoras (Municípios, Associações, Empresas) trabalharem para a melhoria constante das condições de acesso, em especial do público mais desfavorecido - crianças, jovens, idosos e deficientes – devendo apostar na gratuitidade de forma mais abrangente e num maior espaço temporal, criar uma maior amplitude geográfica (ao aumentar a oferta cultural e de lazer no interior) e fomentar a educação pela arte, incentivando o desenvolvimento pessoal pela expressão criativa. Estes são incentivos concretos para materializar um direito, reforçar a consciência de partilha e promover uma cidadania ativa e aberta ao mundo, nunca esquecendo que a participação em atividades culturais e artísticas contribuem para o desenvolvimento pessoal e intensificam o sentimento de pertença a uma comunidade.
Foi exemplo disso uma Colónia de Férias onde tive a felicidade de trabalhar durante 9 anos, uma Instituição que tinha como objetivo “proporcionar férias a pessoas desfavorecidas”, deslocalizadas e com necessidades de apoio social.
Mais do que isso, a Colónia era um espaço transformador que nivelava todos por igual e não discriminava ninguém… Cada UM, de crianças a idosos, de adolescentes a deficientes profundos, orientados por uma equipa pedagógica, viviam momentos únicos em que lhes era dada liberdade para serem quem quisessem e para exprimirem o seu EU, longe da opressão e da rigidez dos seus dias. Eram oito dias intensos, de amizade, de partilha, de diversão, de educação pela cultura, pela arte e pela Natureza. Uma semana em que o acesso era comparticipado para cerca de 2500 utentes anuais, maioritariamente pelo Instituto da Segurança Social, e em que o Estado estava presente como garante de um direito e de uma “resposta social destinada à satisfação de necessidades de lazer e de quebra de rotina, essencial ao equilíbrio físico, psicológico e social dos seus utilizadores”.
Durante 35 anos esta valência foi uma realidade no País, mas nem sempre a garantia do Estado é permanente e muda consoante as prioridades das políticas sociais dos governos vigentes e, consequência disso, a partir de 2015 todas as Colónias/Centros de Férias e Lazer com apoio estatal foram encerrados.
Este exemplo serve para entendermos a necessidade de lazer e de tempo livre como uma resposta às exigências do dia-à-dia, sejam elas sociais, profissionais ou familiares. Precisamos de encontrar harmonia, equilíbrio e conforto para extrairmos o que há de melhor em nós e experienciarmos novos estímulos, seja através da arte, da cultura, do desporto, da natureza… E precisamos que o Estado não se demita do seu dever de o proporcionar aos que mais necessitam, uma vez que tem a responsabilidade de, pelo menos, promover respostas e garantir o acesso às mesmas em condições de igualdade.
As Aldeias de Crianças SOS são a maior organização do mundo a apoiar crianças e jovens em perigo ou em risco de perder o cuidado parental.
Acredite num mundo onde todas as crianças crescem em amor e segurança.
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