O termo parentalidade surge, pela primeira vez, no interessante texto “Parenthood as a Developmental Phase: a Contribution to the Libido Theory” (1959), de Therese Benedek, no qual a psicanalista húngara propõe que a parentalidade – e não a adolescência – seria a ultima fase do desenvolvimento libidinal. Naquela época, havia a ideia de que o nascimento de um filho mudaria algo no desenvolvimento da mulher (importância atribuída ao género).
Embora Benedek seja a precursora do uso do termo, ele passou a ser associado ao psicanalista francês Paul-Claude Racamier (anos 60), retornando com força na década de 80 com René Clement e Serge Lebovici, associado aos estudos das patologias puerperais e aos seus efeitos sobre a prole. Pesquisas sobre a psicose infantil e o autismo aludem para a importância das funções parentais na constituição do sujeito.
Lebovici traz, com uma certa frescura, um olhar mais amplo: apresenta uma visão transgeracional que fala sobre o que nós, humanos, herdamos da família, sobre o que passamos como legado, englobando uma visão social, com uma lente transversal sobre o que fazemos e como incorporamos essa herança. Com o trabalho e desdobramento destas ideias, actualmente entendemos parentalidade como o papel de uma geração, composta por pais, avós, cuidadores e todas as pessoas responsáveis pelos cuidados e educação de uma criança ou jovem. A noção de parentalidade está intimamente ligada à produção de discursos, crenças e valores de uma geração, que servirão de elementos-base para a constituição de uma nova geração, garantindo a sua subjectividade de acordo com a época e a sociedade em que vivem.