Começo por dizer que não consigo pensar em igualdade de género sem pensar no conceito de justiça social. A igualdade de género relaciona-se com esta ideia de que todas as pessoas, independentemente do género com o qual se identificam (feminino, masculino ou outro), devem poder fazer as suas escolhas, de forma livre, informada e ter acesso às mesmas oportunidades, que lhes permita desenvolver-se de forma plena.
Por isso, mais do que um conceito eu diria que é uma perspetiva, uma lente que nos permite ver com maior nitidez o mundo que nos rodeia e que nos ajuda a identificar o que ainda falta fazer para acabar com a desigualdade em razão do género. Desta forma, a perspetiva de género guiará o modo como construímos o mundo no qual queremos viver e queremos deixar às futuras gerações.
Para fazermos esse caminho é preciso deixar para trás formas de pensar e atuar que que se apoiam em sistemas sociais dominantes androcêntrico e cis-heteronormativo, responsáveis pela produção e manutenção da violência de género. Este é um fenómeno que afeta especialmente as vidas de mulheres e pessoas com diversidade sexual e de género: do assédio sexual, à mutilação genital feminina, à desigualdade salarial entre homens e mulheres, à discriminação social contra pessoas LGBTI+ e presença dos discursos de pânico moral de género (ou também chamados de discursos da ideologia de género) são apenas alguns exemplos que refletem algumas consequências desses sistemas de pensamento.
Não podemos aceitar viver numa sociedade em que as violências de género fazem parte do quotidiano como se fosse de uma inevitabilidade se tratasse. Existem alternativas. No mundo em que queremos habitar têm de caber todas as pessoas. Para isso temos de passar do desejo à ação. Eu vejo esse lugar de esperança e de encontro na organização coletiva. Precisamos criar essas alternativas, exigir e resistir. Pensar de forma feminista ajuda-nos a lembrar que o poder nunca foi dado mas sim conquistado. Por isso, se formos capazes de nos juntar, de ocupar o espaço público (sim, ele também é das mulheres), de partilhar experiências e estratégias de resistência e, porque não, lágrimas e sorrisos estaremos a tecer redes de solidariedade, a construir espaços de cuidado e iremos abrindo caminho para um mundo socialmente mais justo.