Paulo, Fernando e Oceane

// Falam sobre Participação

Conversa com Jovens

Fernando, Paulo e Oceane

Eles já viveram e ela vive atualmente numa Casa de Acolhimento Residencial (CAR) das Aldeias de Crianças SOS e foram os nossos convidados no Podcast "Hoje sonhei com a tua casa". As suas generosas partilhas, ao longo duma conversa aberta e amena, serviram de inspiração para esta breve reflexão. 

Este tema tem sido sobejamente debatido no âmbito da promoção e proteção das crianças e jovens pela sua alta relevância, não fosse por si só um direito humano fundamental

Mas talvez, nem sempre se concorde na forma como se interpreta o seu significado e como se promove a sua prática.

Na intervenção nas CAR tenta-se pensar sobre este tema dum modo abrangente. Não se pode resumir o conceito às Assembleias de jovens ou à possibilidade de cada um ser ouvido aquando urge serem tomadas decisões relativamente aos processos de promoção e proteção. Sabemos que a participação tem a ver com a possibilidade de se "ser"  "eu próprio" nas pequenas escolhas do dia a dia, na possibilidade de se decorar o quarto ao seu gosto, de escolher adormecer com a porta entreaberta, de poder assistir à série que se gosta ou de escolher como se quer celebrar o aniversário.

Tem então a ver com a construção da identidade e com o sentimento de autoria,

pelo que implica a relação com O outro - uma relação que, para ser promotora de participação genuína, se quer de respeito e de reconhecimento das necessidades e desejos de cada um. 

De um modo geral, refletimos que a participação pode ter a ver com escolhas, mas não propriamente com dar opinião. Uma pessoa pode participar não contribuindo para uma discussão ou não lançando palpites na sala de aula, como chama a atenção a Oceane. Os três jovens fizeram-nos pensar na importância que a participação deve acrescentar valor, para si próprio ou para os outros e de como está ligada às noções de autonomia e de crescimento pessoal. Participação esta que só deve ser considerada como tal se for autêntica, logo se não for forçada ou falsa.

Isto, faz pensar no conceito de "falso self" do conceituado pediatra e psicanalista Donald Winnicott. De acordo com o autor, o falso self é uma espécie de máscara socialmente aceitável que a pessoa desenvolve para se proteger e se adaptar ao ambiente, enquanto o verdadeiro self é a expressão genuína e autêntica do indivíduo.

Esses conceitos desempenham um papel fundamental na formação da identidade e no desenvolvimento emocional.

No Acolhimento Residencial fala-se muitas vezes, e de acordo com o mesmo autor, da necessidade de se criar um ambiente suficientemente bomque muitas vezes tem de se adaptar para dar resposta às necessidades de cada criança ou jovem, garantindo a sua proteção e crescimento integral, contemplando as particularidades de cada um. É por isso, uma intervenção altamente especializada e exigente. Para que as crianças e jovens possam sentir-se verdadeira e autenticamente autores das suas vidas terão primeiro de ser vistos, reconhecidos, aceites na sua individualidade, até começarem a sentir que fazem parte daquele espaço, daquele coletivo, daquela comunidade. Aí poderão começar a ser eles próprios entre os outros.  

A participação pode então ser vista como o envolvimento ativo da criança no processo de transição entre o seu mundo interior e o mundo externo.  Através deste envolvimento ativo, a criança começa a desenvolver um sentido de agência e autonomia. Os cuidadores desempenham um papel significativo na facilitação deste crescimento, proporcionando um ambiente de apoio e segurança que permite à criança explorar, experimentar, sentir e manifestar sintomas dentro do espaço de transição. Ao reconhecer e respeitar a necessidade da criança, os cuidadores ajudam a nutrir o sentimento de si mesmo e a criatividade. Não será então a participação a possibilidade de se ser criativo?

Na canção "One Love", de Bob Marley, sugerida por Fernando no final da conversa, aparece a ideia de unidade, amor e conexão entre as pessoas, independentemente das diferenças. É curioso, porque parece que damos então aqui um salto qualitativo no olhar para o conceito de "participação". Talvez, depois do indivíduo ser reconhecido na sua unicidade possa então misturar-se com os outros sem receio de se confundir com eles. No contexto da participação, surge o conceito da cooperação, tão bem introduzido pelo jovem Paulo, a propósito da sua recente experiência no exército. Indivíduos ativamente envolvidos uns com os outros e com a comunidade em geral para promover a compreensão, harmonia e cooperação, unem-se e abraçam a diversidade para trabalhar no sentido de objetivos comuns.

A letra de "One Love" incentiva os ouvintes a participar ativamente na criação de um mundo melhor através do amor e da compaixão. Essa participação vai além da mera aceitação passiva e envolve tomar medidas para promover mudanças positivas, seja por meio de atos de bondade, ativismo social ou construção de pontes entre diferentes grupos. Trata-se de se envolver ativamente com o mundo ao nosso redor para torná-lo um lugar mais inclusivo onde todos tenham a sua voz.

Episódio disponível Brevemente

As Aldeias de Crianças SOS são a maior organização do mundo a apoiar crianças e jovens em perigo ou em risco de perder o cuidado parental.
 

Acredite num mundo onde todas as crianças crescem em amor e segurança. 

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