De um modo geral, penso que tende a existir uma associação entre os jovens não acompanhados e o trauma no país de origem. Para muitos destes jovens, existiram várias dificuldades e vivências marcadas por uma enorme violência, desde a saída do país de origem até à chegada a um novo país. No entanto, sabe-se que os eventos externos potencialmente traumáticos, por assim dizer, não têm exatamente correspondência com aquilo que consideramos ser um trauma psíquico. Ou seja, a associação excessiva entre trauma e JENA pode conduzir a uma patologização desta população que acaba por ter uma dimensão estigmatizante, pode conduzir a uma visão muito redutora e pode impedir a possibilidade de ver as capacidades que estes jovens preservam.
Para muitos jovens poderá ser vital falar sobre o passado, pela possibilidade de nomear e atribuir um significado àquilo que foram experiências e vivências, por vezes, muito dolorosas e com um enorme sofrimento. Para outros jovens o verdadeiro “trauma”, por assim dizer, poderá ser a discriminação e o racismo a que estão sujeitos, ou as múltiplas barreiras que encontram no país de acolhimento, que impedem o desenvolvimento de um sentimento de pertença, essencial e estruturante psiquicamente. Freud procurou compreender o racismo socorrendo-se da noção de “estranho”, cuja etimologia da palavra alemã “unheimlich”, combina o familiar (heim) com a sua negação (un). A partir da reflexão sobre a origem e a formação etimológica da palavra, Freud conclui que aquilo que nos causa estranheza ou repulsa é paradoxalmente aquilo que nos é mais familiar, embora esteja reprimido no nosso inconsciente. O racismo corresponderia assim, à projeção das características indesejadas, partes consideradas “más”, no outro, tradicionalmente negro, preservando assim uma imagem positiva no branco.